sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Dança da Preguiça

Ser criança é não ter medo de se aventurar. Quando somos pequenos, ficamos tão próximos ao chão que temos total sensação de segurança.
Ao contrário do ballet clássico, em que nosso corpo todo é apoiado sobre a mísera ponta de uma sapatilha, na dança contemporânea o chão se torna quase uma continuação de nossos membros.
É assim no dueto de Alice Ripoll e Juliana Medella, “Amanhã Recomeço”. O chão é tão bem explorado que quase dá vontade de se juntar a elas naquela preguiçosa coreografia. A intervenção se espalha pelo carpete do foyer e agrada... Doze minutos de movimentos encaixados que brincam com o corpo como se fossem um quebra-cabeças.


Como diz o ditado...

Para falar dessa segunda noite de Bienal vou usar dois conhecidos ditados. O primeiro deles é o que diz que “beleza não põe mesa”.
Cada pessoa tem uma idéia concreta, ou não, daquilo que é belo, que lhe agrada aos olhos. São impressões que não seguem regras, até porque, no decorrer da vida, vamos adaptando e mudando nossos padrões.
Pra mim, o espetáculo “Encarnado”, da Lia Rodrigues Cia. de Dança, é totalmente isento de beleza. Isso não quer dizer que seja bom, nem ruim, somente que não me agradou aos olhos.
Durante 60 minutos os nove integrantes se revezam em curtos solos, executados sem qualquer trilha sonora ou música de fundo. A utilização de catchup (ou tinta vermelha) para dar o tom que nomeia o espetáculo, acaba ficando exagerada, resultando em cenas fortes e muitas vezes, grotescas.
Os “encarnados” bailarinos interpretando suas crises de choro, raiva ou loucura, chegam a parecer “possuídos”.
Assim como o catchup, a nudez pra mim, também é exagerada, o que em determinados momentos, chega a causar certo desconforto para quem vê – difícil esquecer a cena em que uma bailarina acaricia o próprio seio, ou a que dois bailarinos nus arrancam as roupas da companheira de palco com os dentes.
Enfim, tudo bem que beleza não põe mesa, mas acredito que pra se gostar de alguma coisa, é preciso encontrar nela algo que se possa admirar... Nesse espetáculo, não encontrei, mas, como diz meu segundo ditado, “gosto não se discute”...

Patricia Andrik - jornalista

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