Tem uma coisa inegável a respeito da Bienal: ela realmente leva a arte para todo e qualquer espaço da Cidade. Uma das provas disso é a performance da bailarina carioca Cláudia Müller, que leva sua "dança contemporânea em domicílio" para onde quer que ela seja solicitada.
Discreta e muito bem articulada, Cláudia consegue atrair todo tipo de olhar: o curioso, o espantado e aquele que admira sua coragem e desenvoltura. Entre um movimento e outro, ela declama trechos de um texto que fala do artista como um trabalhador, aquele que não precisa de espaço adequado, nem de recompensa financeira, aquele que está ali simplesmente pelo amor à sua arte.
Para quem recebe o espetáculo - como eu - fica clara a proposta: não se trata só de receber a "entrega" de uma dança, mas sim, de poder admirar a bela "entrega" da bailarina.
Mapplethorpe
Às vezes fico pensando: qual a verdadeira proposta da dança contemporânea? Assistindo ao espetáculo-solo de Ismael Ivo, muitas perguntas vêm à cabeça.
O começo agonizante do primeiro movimento, "Prisão", causa transtorno e falta de ar. A passagem de uma seqüência para outra surpreende e o cenário evoca às lindas fotos do homenageado, Robert Mapplethorpe, conhecido pelos polêmicos retratos que detalham o corpo nu e as flores. No último movimento, "Mortalidade", a dureza e a loucura impressa no rosto e nos gestos de Ivo chega a incomodar, de tão convincente...
Durante todo o espetáculo, o jogo de luzes complementa e enaltece a beleza de cada cena. Boa parte dos movimentos é substituída pela expressão e pela mensagem contida nos símbolos cenográficos, um convite ao questionamento que acompanha o espectador até mesmo depois que as luzes da ribalta se apagam.
Seria essa a função da dança contemporânea, provocar discussões? Ou seria simplesmente mostrar aquilo que o corpo é capaz de expressar a partir de uma idéia na cabeça?
No final das contas, acabo achando que a dança transcende tudo isso, que os questionamentos, não precisam de resposta e que basta ter um pouco de sensibilidade para apreciar, ao invés de tentar entender...
Patricia Andrik - jornalista
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