sábado, 17 de novembro de 2007

Mais do mesmo

O local é inusitado! Antes de começar o espetáculo o público recebe as instruções: "lá embaixo está quase tudo apagado, tomem cuidado ao descer as escadas... o foco de luz azul indica os lugares onde vocês podem ficar". No estacionamento do Sesc, a Anti Status Cia. de Dança apresenta "Brasília - Cidade em Plano".
Logo no início, cinco bailarinos exibem seus corpos nus pelas edificações da capital homenageada, reproduzidas no cenário. A iluminação privilegia e rende ótimas imagens de pernas e braços fazendo as vezes de arranha-céus.
A performance se alonga por mais de uma hora e a interação e a proximidade com o público são tamanhas que algumas pessoas chegam a se esquivar das "investidas coreográficas" do elenco.
É aí que volto à questão: usar a nudez em espetáculos contemporâneos para chocar ou provocar reações adversas já não se transformou em algo comum? Não é só mais do mesmo?
Na mesma noite e em contrapartida, assisti "Máquina de Desgastar Gente", criação e concepção do baiano Luís de Abreu, que trata da presença e da exploração da imagem do negro na sociedade.
Em cena, oito bailarinos afro-descendentes, apresentam a primeira parte do espetáculo, que conta a origem biológica de cada um: de onde vieram, quem são seus pais, avós, bisavós... Na seqüência, um episódio sobre a "memória atual" encena os traumas, as frustrações e as conquistas desses bailarinos, como os testes de elenco em que não foram aprovados, as apresentações de sucesso e até os momentos de constrangimento sofridos por causa da cor da pele.
O espetáculo termina com uma sátira ao estereótipo: ao som de música erudita, os movimentos sensuais do axé.
Pra mim, o grupo dança sem chocar, diverte sem apelar... Não estão nus, mas conseguem mostrar perfeitamente as suas verdades. Afinal, expor suas origens e experiências para um teatro cheio, não é despir-se para o público?

Patricia Andrik
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança

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