segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Memória inscrita

Foram cinco dias de Bienal. Muitos trabalhos, muitas propostas.
Analisando tudo o que assisti, fico imaginando: qual será o futuro da dança? Surgirão novos Petipa, Balanchine, MacMillan? Ainda existirão sapatilhas de ponta, tutus, Cisnes, Quebra-Nozes e Raymondas? E a dança contemporânea, aonde chegará?
Enquanto pensava no futuro, assisti o espetáculo que encerrou o evento. Em cena, Françoise e Dominique Dupuy, um casal que por si só é pura memória. Discípulos do alemão Jean Weidt, eles foram precursores da dança moderna e expressiva da França.
No espetáculo, ambos demonstram tamanha vitalidade que nos faz esquecer que eles já passam dos 70 anos de idade. Dominique surpreende em seu solo com o cajado e Françoise consegue ser tão leve e sutil quanto o esvoaçante tecido de seu figurino. Apresentando trechos de coreografias que marcaram seu passado, os bailarinos conseguem ser perfeitamente atuais.
Sendo assim, só pude chegar a uma conclusão: gostando ou não, continuarei assistindo e acompanhando essa processo evolutivo da dança, afinal, tudo que passa por nós deixa uma marca, uma memória inscrita. Talvez no futuro nos encontremos novamente e possamos levantar novas e reflexivas questões sobre o assunto...
Um grande abraço a todos, obrigada pela companhia e até a próxima!

Patricia Andrik
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança

domingo, 18 de novembro de 2007

Bienal de Dança?


Uma das definições de Arte, segundo o Aurélio, diz assim: “capacidade que tem o homem de, dominando a matéria, pôr em prática uma idéia”. Já dança, significa: "seqüência de movimentos corporais executados de maneira ritmada, em geral ao som de música".

Nessa reta final, resolvi levantar outra questão: até onde chega o conceito de dança contemporânea? Será que com tantas novas experimentações a Bienal não está se transformando em uma Bienal de Arte?

Assistindo os mais variados espetáculos e intervenções acabei concordando com minha colega de blog, Fernanda Mello: também achei que em muitas situações a dança foi esquecida, simplesmente deixada de lado.

Um exemplo disso é “Para todas as Marias”, na qual a bailarina Cristiane Oliveira passa mais de uma hora em meio à flores e frutas para valorizar a percepção sensorial e a sexualidade feminina. Um trabalho estudado, esteticamente bonito, mas que mais se assemelha à uma performance.

Assim como o vento é o ar em movimento, pra mim, dança também é um corpo em movimento e pensar nesses aspectos talvez seja uma boa sugestão para a próxima edição do evento.

Manual de Instruções

É interessante ver como cada grupo usa a temática proposta pela Bienal, "memória que se inscreve". Em "Manual de Instruções", a companhia de Dani Lima comenta diversas impressões passadas pelo elenco. Com a platéia acesa durante todo o espetáculo, o público é convidado a interagir nas propostas e memórias do grupo.
Simpáticos e cativantes, os bailarinos mostram seus talentos e experiências. O momento em que André Masseno conta a "história da bacia" * é impagável e facilmente se tornou o meu preferido. Destaque também para os trechos em que as bailarinas ensinam a dançar samba e vestir uma camiseta.
Na mesma noite, a baiana Verônica de Morais apresentou "Bom de Quebrar", uma série de movimentos rápidos com situações de quebra e fragmentação. Em seu figurino de papel, a bailarina vai além dos limites do corpo e chega a impressionar. Incrivelmente, apesar de todas as circunstâncias apontarem o contrário, Verônica não segue o título do trabalho e, felizmente, sai ilesa da coreografia.

* trecho do espetáculo em que o bailarino demonstra como descobriu a citada parte do corpo, cultuada por nomes como James Brown, Gretchen e o próprio André Masseno.

Patricia Andrik
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança






Mudanças e marcas

Impressionante como a cada performance vista durante esta Bienal Sesc de Dança o conceito desta arte e de movimento foi-se transformando em minha cabeça. O que vi, até agora, neste último dia de evento, só comprova essas mudanças.

Com Entre e Saia para as Entre Salas, da Cia. Etra de Dança Contemporânea, do Ceará, percebo que a dança não tem sotaque. A performance e a coreografia apresentadas pelos bailarinos do Nordeste têm as mesmas referências dos que vivem no Sudeste. Sintonia, sincronicidade?, como foi falado pela portuguesa Filipa Francisco no painel O Lugar da Dança.

Não sei responder. O que noto, pela Bienal, é que bailarinos e coreógrafos estão reiventando a dança, a roda. Novo choque ao assistir Pra Weidt - O Velho, apresentada pelo atelier de bailarinos santistas, que integrou lindamente jovens e idosos no mesmo palco, trocando de papéis, para lembrar-nos, como disse a colega Patrícia Andrik, de onde viemos e para onde vamos.

Assistindo depois ao painel sobre o processo de criação de Joana Lopes sobre a coreografia A Dança dos Velhos, de Jean Weidt, descubro que o que vi chama-se coreodramaturgia. É dança, teatro, movimento!

E Joana me fez pensar sobre o que um círculo, uma diagonal, uma horizontal podem comunicar e significar, linhas que Weidt e Joana souberam aproveitar em seus tempos e espaços. Nem foi preciso a coreografia quadrada e marcada para fazer o público refletir sobre o papel do idoso na sociedade e a fragilidade do ser humano de qualquer idade.

Outro conceito sobre dança me toma quando assisto a Dois do Seis de Setenta, da carioca Claudia Müller, a mesma que criou a dança contemporânea em domicílio. Assim como se entrega flores, Claudia leva arte para alguém, mas, além do presente em um embrulho diferente, ela chama para a questão da dificuldade do bailarino trabalhar e viver de seu trabalho, de seu corpo, de sua arte.

A mesma Claudia, criativa e desafiadora, questiona em Dois do Seis de Setenta o que é o corpo e de que matéria ele é construído. De marcas, como um mapa, diz o texto que acompanha a performance.

Com o corpo pintado com datas, ela vai se desenrolando no chão, mostrando as muitas possibilidades, as formas. E joga na cara do público que somos feitos de marcas, que levamos para onde formos e que contam nossa história, o machucado da infância, a vacina...

Se nosso corpo muda com o tempo, ganhando e perdendo marcas, só poderia ser desta forma com a dança. Acho que é bem isso que a quinta edição da Bienal Sesc de Dança está mostrando, as transformações pelas quais a dança está passando, as suas muitas possibilidades, a ausência de limites e a importância da história, para que não esqueçamos para onde seguir.

No último dia, percebo que o tema Memória que se Inscreve foi escolhido a dedo. Acredito que os bailarinos sairão daqui mais fortalecidos e mais inteiros de seu compromisso com a arte e com a sociedade, das mudanças que podem provocar com ou sem movimentos.

Fernanda Mello
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança

Vamos celebrar!

O homem moderno tem uma coisa engraçada: anda muito preocupado em preservar a história... monumentos, construções, tumbas faraônicas, restos de animais e civilizações que não existem mais.

Enquanto isso, esquecemos de conservar coisas antigas que estão muito mais próximas de nós: nossos valores, ensinamentos, aquilo que não foi simplesmente plantado em nossa cabeça, mas foi nos ensinado por alguém.

Às vezes é preciso assistir um espetáculo como o do Atelier de Bailarinos Santistas para repararmos na beleza impressa nas rugas deixadas pelo tempo. Em “Para Weidt – o Velho”, o grupo santista presta uma homenagem ao coreógrafo alemão Jean Weidt, um precursor do enfoque da dança como ação social. A coreografia é uma releitura brasileira da obra de 1929, que mostrava que os velhos, no conjunto da sociedade fisiculturista incentivada pelo movimento nazista da época, eram apenas ferro-velho.

A escolha do local da apresentação não poderia ser mais perfeita. Assim como os velhos citados, o fosso do teatro às vezes também passa despercebido, mas serviu para abrigar cerca de 100 pessoas que formaram a platéia.

Os jovens bailarinos interpretando idosos emocionam. Atuando ao lado deles, o grupo constituído por pessoas da chamada 3ª idade, também emociona e nos faz repensar nossa existência e aquilo que seremos se chegarmos à idade deles.

Assistir “Para Weidt – o Velho” me fez refletir e querer celebrar...

Então vamos celebrar o bom gosto, a beleza dos movimentos, as trilhas bem escolhidas... Vamos celebrar nossos pais, nossos avós, nossos bisavós, porque eles são nossa origem, aquilo que somos e o que vamos ser.

Contemplemos o velho para apreciar o novo e talvez assim, finalmente possamos entender que o que é bom, não tem idade.


Patricia Andrik
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança



sábado, 17 de novembro de 2007

À beira-mar

Ainda estou com areia, acabado de assistir Loin de Là, dos franceses do Ex-Nihilo, na praia mesmo, junto ao Canal 5, performance que vai se repetir neste domingo, às 17h30, no mesmo local.

Vale a pena ver, ainda mais no último dia de Bienal Sesc de Dança. Por quê? Primeiro porque não é todo o dia que se vê bailarinos, que também tocam instrumentos musicais, dispostos a encarar a areia, a água gelada... E os franceses se renderam mesmo, deitaram e rolaram, literalmente, na Praia da Aparecida.

Não dá para dizer que apresentaram algo de inovador, como foi o caso do queniano Opyo Okach, que levou à convivência do Sesc, no feriado de 15 de novembro, sua dança africana, tradicional e livre. A apresentação de Ex-Nihilo vale pelo lugar, pela entrega dos bailarinos à proposta de levar a dança para qualquer lugar e pela música também, principalmente, a tirada pelos próprios bailarinos da guitarra, da bateria e de sopros.

Os banhistas pararam para ver e gostaram. Ficou evidente que os bailarinos adoraram. No final do espetáculo, entraram de roupa e tudo no mar, acredito que, para celebrar o momento mágico de dançar à beira-mar.

Quero ver dança

Outro lugar que poderia ter sido melhor aproveitado é a Praça do Aquário. Explico: em Tempo de Espera, de Ana Andréa Arte Contemporânea, do Rio de Janeiro, poderia ter havido mais dança, para mostrar ao público que estava lá na tarde de sábado e para celebrar o sol que se abriu no momento da performance.

A música escolhida daria em vários trechos de um belo contemporâneo. Nos poucos momentos em que Ana Andréa e Renata Costa se movimentaram, ficou claro que as duas têm potencial para tanto.

Houve bons momentos de comédia e de interpretação. Mas dança mesmo, calculo que tomou só 10% da apresentação. Quem sabe em uma próxima?

Fernanda Mello
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança

Ousadia e risco

Confesso que fiquei curiosa para assistir ao pessoal do Aburussu, do Paraná, que está apresentando, sempre às 18 horas, na Internet Livre, a performance Brucutu. Dançar no meio de computadores?
Fui ver. Gostei da performance, que usa muito elementos da dança de rua, e também da música, que fecha com os movimentos e tem uma batida forte orquestrada pelo computador e por um integrante da companhia, que faz as vezes do DJ.
Enquanto a performance acontece, ela é gravada por uma câmera, e fica sendo exibida a imagem de um rosto com o brucutu, aquela máscara usada pelos ladrões para esconderem o rosto. O bailarino integra o brucutu à performance, o que, para mim, deu um resultado interessante e cumpriu a proposta de questionar a violência.
Gostei da ousadia do grupo em topar se apresentar em um espaço tão atípico, e também apreciei a performance. Mas achei arriscado. É muita informação para o público, que tem que dar conta da performance do bailarino, da imagem do vídeo no telão e nos computadores, da moça filmando, do DJ e do convite a participar vestindo o brucutu.
Para finalizar, Brucutu combinou com o lugar e com as pessoas que gostam de tudo ao mesmo tempo agora!

Fernanda Mello
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança

Mais do mesmo

O local é inusitado! Antes de começar o espetáculo o público recebe as instruções: "lá embaixo está quase tudo apagado, tomem cuidado ao descer as escadas... o foco de luz azul indica os lugares onde vocês podem ficar". No estacionamento do Sesc, a Anti Status Cia. de Dança apresenta "Brasília - Cidade em Plano".
Logo no início, cinco bailarinos exibem seus corpos nus pelas edificações da capital homenageada, reproduzidas no cenário. A iluminação privilegia e rende ótimas imagens de pernas e braços fazendo as vezes de arranha-céus.
A performance se alonga por mais de uma hora e a interação e a proximidade com o público são tamanhas que algumas pessoas chegam a se esquivar das "investidas coreográficas" do elenco.
É aí que volto à questão: usar a nudez em espetáculos contemporâneos para chocar ou provocar reações adversas já não se transformou em algo comum? Não é só mais do mesmo?
Na mesma noite e em contrapartida, assisti "Máquina de Desgastar Gente", criação e concepção do baiano Luís de Abreu, que trata da presença e da exploração da imagem do negro na sociedade.
Em cena, oito bailarinos afro-descendentes, apresentam a primeira parte do espetáculo, que conta a origem biológica de cada um: de onde vieram, quem são seus pais, avós, bisavós... Na seqüência, um episódio sobre a "memória atual" encena os traumas, as frustrações e as conquistas desses bailarinos, como os testes de elenco em que não foram aprovados, as apresentações de sucesso e até os momentos de constrangimento sofridos por causa da cor da pele.
O espetáculo termina com uma sátira ao estereótipo: ao som de música erudita, os movimentos sensuais do axé.
Pra mim, o grupo dança sem chocar, diverte sem apelar... Não estão nus, mas conseguem mostrar perfeitamente as suas verdades. Afinal, expor suas origens e experiências para um teatro cheio, não é despir-se para o público?

Patricia Andrik
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança

Um duo delicado

O que salta aos olhos nesta quinta edição da Bienal Sesc de Dança é a proximidade do bailarino com o público. Se no formato tradicional de palco de frente para a platéia, os dois ficavam separados por uma parede invisível, onde público não vê os olhos do bailarino, detalhes de suas expressões e de corpo em movimento; agora, com as performances em espaços públicos, onde bailarino e público estão quase que lado a lado, esta proximidade, boa para que a platéia veja e sinta o bailarino de uma forma mais intensa, deixa também ambos mais frágeis.

Em dois espetáculos, um na Praça Mauá e outro na porta da Bolsa do Café, o público fez interferências na performance dos bailarinos. Nos dois casos, os artistas seguiram adiante, sem, contudo, notarem a presença dos 'invasores' e serem influenciados de alguma forma por ela.
E o público também está exposto, porque, geralmente, essas performances são interativas, ou seja, o artista pega pessoas da platéia e as coloca na sua apresentação. Sempre tem os que curtem a idéia, e os que fogem da apresentação, como diabo da cruz.

Não posso afirmar o que é melhor para o bailarino, para a arte e para o público, nem mesmo comparar a dança no palco ou na rua, mas, do que presenciei e ouvi dos participantes da Bienal Sesc de Dança, posso concluir que bailarino e público compõem um duo muito delicado.

Fernanda Mello
Jornalista e comentarista do blog da Bienal Sesc de Dança

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Cadê a música?

Em um passada pelas performances da tarde de hoje no Centro Histórico, senti falta de um detalhe: a música! Concordo que momentos de silêncio, até mesmo na dança, têm seu sentido, e que podem dizer tanto quanto uma canção. Em Fragmentos entre Cortes no Espaço, com Daphne Madeira e Fernando Alves Pinto, apresentado na Bolsa do Café, o bailarino cantou o trecho de uma música e tirou o som de um serrote! Uma tentativa de se fazer música de uma forma não-convencional.Particularmente, não gosto de performances sem música. Para mim, dança tem que ter música, seja ela qual for. O público geral gosta de ouvir o som, este, inclusive, chama a atenção para o bailarino, e para o movimento. Afinal, música contagia. Sem querer, mal se ouve uma música, os pés já começam a bater no chão, ritmados, em um movimento natural.Acho que os bailarinos e coreógrafos têm todo o direito de deixar a criatividade correr solta no momento de suas criações, mas, e o público, ninguém pensa nele?Movimento puro sem música não é para qualquer um. Até quem gosta de dança, pode cansar rápido. Que dirá um leigo, que pode estar se deparando pela primeira vez com a dança contemporânea.Será que vai se conseguir formar público apresentando performances sem música? Jogo a pergunta, na expectativa de ouvir muitas respostas!


Fernanda Mello

jornalista e comentarista da quinta edição da Bienal Sesc de Dança

15 de novembro

Bem, neste momento, estou no Sesc mais precisamente escrevendo do espaço da Internet Livre, onde daqui a pouco o grupo Aburussu, do Paraná, está preparando o espaço para apresentar Brucutu, uma brecha no tráfico do medo. Depois de ter acabado de ver na área de convivência, Entre, da Cia. Domínio Público, de Campinas, um duo com Leandro Rivieri e Nina Giovelli, que descontrói e questiona a relação de movimentos entre homens e mulheres, e a Cia. Linhas Aéreas, de São Paulo, com sua dança nas alturas, no chão, no colchão, no sofá, no balde, na cadeira; e, ainda depois de ter passado pelo painel O Lugar da Dança, me pergunto o que é a dança contemporânea, quem é o bailarino de hoje, o que ele quer comunicar?
Ao mesmo tempo, tenho alguns indícios de respostas que vêm do que vi e ouvi agora pouco: Dani Lima, jornalista e criadora do Rio de Janeiro, me ajuda a concluir (pelo menos por enquanto) que a dança está em todos os lugares ao dizer que "ela está nos corpos em movimento que aparecem nos comerciais de televisão".
O conceito de dança está cada vez mais ampliado, e a quinta edição da Bienal Sesc de Dança está neste tom. O que o público não habituado à dança está vendo nesta tarde
é onde ela pode chegar, em uma sala cheia de computadores, e o quão possível é gostar de dança.
Sem saber e sem sentir, o próprio público dança ao se movimentar. Todos são corpos em movimento. Aí voltam às perguntas na minha cabeça: "Quem é o bailarino, quem é o público, quem é o coreógrafo?".

Diferente de tudo. Acho que posso resumir assim a performance No Man´s Gone Now, do queniano Opyo Okch, na tarde de hoje, no Sesc. Ele mostrou que seu país de origem tem mais que bons corredores, tem também ótimos bailarinos.
Opyo prendeu o público específico e geral com uma coreografia que mistura a dança tradicional da África, com movimentos livres que permitem que o corpo flua e vibre com a energia do momento.
Por incrível que pareça, Opyo improvisou. Ele explica isso dizendo que usa a técnica instant composition, composição do momento.
Mesmo improvisando, tem um coreógrafo, o britânico Julian Hemilton, que o ajuda a compor alguma estrutura de movimento, com a escolha da música e da iluminação, o resto, ou melhor, quase que o todo é o aqui e o agora de Opyo, do lugar e do público.
Saber disso tornou a apresentação dele ainda mais fantástica.

Fernanda Mello

14 de novembro

Olá. Meu nome é Fernanda Mello, sou jornalista e apaixonada por dança, ou seria uma apaixonada por dança que virou jornalista? Enfim, vou escrever de hoje a domingo, durante a Bienal Sesc de Dança, sobre os espetáculos que assistir.
Começo dizendo que hoje a abertura da quinta edição da Bienal Sesc de Dança não poderia ter sido melhor. A Quik Companhia de Dança, de Minas Gerais, que se apresentou na Praça Mauá, na hora do almoço, ratificou que a dança contemporânea e suas companhias acertam quando vão aonde o povo está.
O público gostou e reagiu à coreografia Rua e às performances de Rodrigo Quik, Letícia Carneiro, Sandra Santos e Gilberto de Assis. Não para menos. O quarteto mostrou o vigor do bailarino contemporâneo, que, muitas vezes mais parece ao de um atleta, inclusive em alguns movimentos, e todas as possibilidades de criação da dança feita hoje.
A proposta de Rua, que mostra o cotidiano urbano, casou perfeitamente com o espaço em que foi apresentada, uma praça no Centro, na hora do almoço. E o público deu resposta à proximidade do tema com o seu dia-a-dia: no momento em que Rodrigo e Letícia dançam sobre um tapete representando a situação de violência contra a mulher, alguém da platéia quis bater no bailarino. Rodrigo contou isso no final do espetáculo.
Para mim, o melhor de muitos bons momentos foi o que o mesmo casal dança com os pés em bacias vazias de plástico.
No segundo espetáculo do dia, Espera, da K. Cia de Dança Contemporânea, do Ceará, a interação com o público foi ainda maior na performance de Karin Giglio, na porta da Bolsa Oficial do Café, ainda no Centro. A bailarina e o que chama de suas células de movimento prenderam a atenção do público engravatado que vai tomar café naquele, que é um dos edifícios mais belos da Cidade.
Karin foi além, usou os sapatos da platéia e colocou algumas pessoas para dançar.
A experiência em teatro fez sua performance ainda mais convincente e divertida! Com movimentos, expressões e improvisações, Karin lembrou a que ponto um ser humano chega quando tem que esperar demais.
Na terceira apresentação do dia, os bailarinos cariocas da Focus Cia. de Dança tiveram um desafio na Praça Mauá.
Um homem de rua se empolgou com a coreografia Outro Lugar, e chegou a interferir no espetáculo.
Os bailarinos tiraram de letra, uma vez que Outro Lugar foi criada para isso mesmo, espaços públicos, onde tudo pode acontecer.
Se a praça expõe o grupo a diversas situações, ela também dá o espaço necessário para o que Alex Neoral, da Focus Cia, chama de espaço tridimensional. "Podemos fazer os movimentos para qualquer direção".
Para a bailarina Clarice Silva, lidar com o inesperado, o homem de rua, foi um exercício. Para mim, foi uma prova de que a dança contemporânea deve seguir ousando e buscando público onde quer que ele esteja, ou quem quer que seja.

Fernanda Mello

Com ou sem necessidade?

O que mais tenho reparado nesses dois primeiros dias de Bienal é a quantidade de nus artísticos.

Sendo assim, resolvi levantar a questão: quando a nudez é realmente necessária e quando ela pode ser justificada?

Na minha opinião, o uso desse artifício se encaixa em situações distintas. Uma delas é quando se retrata o corpo em sua forma escultural, quando se remete à pureza de nossa origem humana, época em que éramos isentos de qualquer vestimenta.

Outra situação é quando usamos o apelo sexual, mostrando o erotismo de nossa forma física como objeto de provocação.

Talvez eu seja conservadora demais, talvez tenha eu mesma que me despir dos pré-conceitos, mas a verdade é que em poucas situações consigo justificar a nudez dentro da dança contemporânea.

Pra mim, quem a empregou muito bem foi Ricardo Marinelli, na obra “Eu tenho autorização da polícia para ficar pelado aqui”.

A idéia é sensacional! Tranqüilamente sentado em sua instalação, Ricardo não impõe, faz a vontade do público e deixa para ele a decisão de querer vê-lo nu, ou não...

Duas plaquinhas indicam pratos destinados a contribuições monetárias: quem escolher o prato da esquerda, ganha uma dança em troca do dinheiro. Já quem contribuir no prato da direita, pode assistir a uma troca completa do figurino do artista.

O interessante é que pra ele, o fato de estar despido não significa estar nu, não requer intimidade, nem altera sua identidade, é simplesmente um estado de espírito. Com ou sem roupa, fica aqui a minha sugestão: quem opta pela dança tem o prazer de ver seqüências de movimentos ágeis, alegres e despretensiosos do sorridente bailarino. Pura diversão!

Patricia Andrik

Dança da Preguiça

Ser criança é não ter medo de se aventurar. Quando somos pequenos, ficamos tão próximos ao chão que temos total sensação de segurança.
Ao contrário do ballet clássico, em que nosso corpo todo é apoiado sobre a mísera ponta de uma sapatilha, na dança contemporânea o chão se torna quase uma continuação de nossos membros.
É assim no dueto de Alice Ripoll e Juliana Medella, “Amanhã Recomeço”. O chão é tão bem explorado que quase dá vontade de se juntar a elas naquela preguiçosa coreografia. A intervenção se espalha pelo carpete do foyer e agrada... Doze minutos de movimentos encaixados que brincam com o corpo como se fossem um quebra-cabeças.


Como diz o ditado...

Para falar dessa segunda noite de Bienal vou usar dois conhecidos ditados. O primeiro deles é o que diz que “beleza não põe mesa”.
Cada pessoa tem uma idéia concreta, ou não, daquilo que é belo, que lhe agrada aos olhos. São impressões que não seguem regras, até porque, no decorrer da vida, vamos adaptando e mudando nossos padrões.
Pra mim, o espetáculo “Encarnado”, da Lia Rodrigues Cia. de Dança, é totalmente isento de beleza. Isso não quer dizer que seja bom, nem ruim, somente que não me agradou aos olhos.
Durante 60 minutos os nove integrantes se revezam em curtos solos, executados sem qualquer trilha sonora ou música de fundo. A utilização de catchup (ou tinta vermelha) para dar o tom que nomeia o espetáculo, acaba ficando exagerada, resultando em cenas fortes e muitas vezes, grotescas.
Os “encarnados” bailarinos interpretando suas crises de choro, raiva ou loucura, chegam a parecer “possuídos”.
Assim como o catchup, a nudez pra mim, também é exagerada, o que em determinados momentos, chega a causar certo desconforto para quem vê – difícil esquecer a cena em que uma bailarina acaricia o próprio seio, ou a que dois bailarinos nus arrancam as roupas da companheira de palco com os dentes.
Enfim, tudo bem que beleza não põe mesa, mas acredito que pra se gostar de alguma coisa, é preciso encontrar nela algo que se possa admirar... Nesse espetáculo, não encontrei, mas, como diz meu segundo ditado, “gosto não se discute”...

Patricia Andrik - jornalista

Se a montanha não vai a Maomé...

Tem uma coisa inegável a respeito da Bienal: ela realmente leva a arte para todo e qualquer espaço da Cidade. Uma das provas disso é a performance da bailarina carioca Cláudia Müller, que leva sua "dança contemporânea em domicílio" para onde quer que ela seja solicitada.
Discreta e muito bem articulada, Cláudia consegue atrair todo tipo de olhar: o curioso, o espantado e aquele que admira sua coragem e desenvoltura. Entre um movimento e outro, ela declama trechos de um texto que fala do artista como um trabalhador, aquele que não precisa de espaço adequado, nem de recompensa financeira, aquele que está ali simplesmente pelo amor à sua arte.
Para quem recebe o espetáculo - como eu - fica clara a proposta: não se trata só de receber a "entrega" de uma dança, mas sim, de poder admirar a bela "entrega" da bailarina.

Mapplethorpe

Às vezes fico pensando: qual a verdadeira proposta da dança contemporânea? Assistindo ao espetáculo-solo de Ismael Ivo, muitas perguntas vêm à cabeça.
O começo agonizante do primeiro movimento, "Prisão", causa transtorno e falta de ar. A passagem de uma seqüência para outra surpreende e o cenário evoca às lindas fotos do homenageado, Robert Mapplethorpe, conhecido pelos polêmicos retratos que detalham o corpo nu e as flores. No último movimento, "Mortalidade", a dureza e a loucura impressa no rosto e nos gestos de Ivo chega a incomodar, de tão convincente...
Durante todo o espetáculo, o jogo de luzes complementa e enaltece a beleza de cada cena. Boa parte dos movimentos é substituída pela expressão e pela mensagem contida nos símbolos cenográficos, um convite ao questionamento que acompanha o espectador até mesmo depois que as luzes da ribalta se apagam.
Seria essa a função da dança contemporânea, provocar discussões? Ou seria simplesmente mostrar aquilo que o corpo é capaz de expressar a partir de uma idéia na cabeça?
No final das contas, acabo achando que a dança transcende tudo isso, que os questionamentos, não precisam de resposta e que basta ter um pouco de sensibilidade para apreciar, ao invés de tentar entender...

Patricia Andrik - jornalista

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Olá a todos! Bem-vindos ao Blog da Bienal!

Eu sou Patricia Andrik e fui convidada para comentar alguns dos espetáculos do evento.

Para começar vou contar um pouquinho da minha história e do meu envolvimento com a dança.

Iniciei meus estudos aos 10 anos de idade e toda a minha formação clássica foi feita na Escola de Ballet Lúcia Millás, de Santos, onde também tive noções de dança moderna, sapateado americano e irlandês. Paralelamente, participei de apresentações e concursos pelo Ballet Valderez e pela Cia. de Dança Gláucia Lacerda Serra, na qual pude aprofundar meus conhecimentos em dança contemporânea e jazz.

Fiz ainda diversos cursos com professores como: Tíndaro Silvano e Beatriz de Almeida (Brasil), Luis Arrieta (Argentina), Svetlana Kubasova e Andrei Koudielin (Rússia).

Entrei para a Faculdade de Jornalismo da Universidade Católica de Santos em 1998, mesmo ano em que participei da 1ª Bienal Sesc de Dança... faz tempo!

Mesmo depois de graduada, decidi continuar me aventurando pela dança e fui selecionada para integrar o elenco do ballet “O Quebra-Nozes”, da Cisne Negro Cia. de Dança, de São Paulo. Mais tarde, passei um ano na Cia., onde tive a oportunidade de trabalhar com renomados professores como: Ismael Guiser (Argentina), Boris Storojkov (Rússia), Neide Rossi, Mário Nascimento e Sonia Mota (Brasil), além de participar de montagens de Patrick Delcroix (França) e Marc de Graef (Portugal).

Hoje atuo como jornalista, mas nunca deixei de lado esse “vício” que é a dança, seja ela amadora, profissional ou até mesmo aquela mais simples, que nos faz mexer o esqueleto quando estamos sozinhos no quarto e toca aquela música bacana na rádio.

A minha intenção aqui não é julgar nem criar teses fundamentadas em teorias e tendências da dança contemporânea, mas sim, mostrar a minha opinião sobre os trabalhos apresentados e dividir com vocês a memória que eles se inscrevem em mim...



Um grande abraço a todos e boa Bienal!

Patricia Andrik

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

5ª. BIENAL SESC DE DANÇA – 2007

Santos recebe 46 apresentações de 42 grupos de dança contemporânea do Brasil e de sete países entre 14 e 18 de novembro. Evento reunirá cerca de 300 artistas, produtores e técnicos de dança na cidade


A quinta edição da Bienal SESC de Dança reunirá 42 companhias de dança de oito estados brasileiros e de mais cinco países: Alemanha, Quênia, Portugal, Espanha e França entre 14 e 18 de novembro, para a apresentação de 46 espetáculos, performances e instalações coreográficas utilizando como palcos as dependências do SESC Santos e diversos espaços públicos e históricos da cidade santista.

Além dos espetáculos, o projeto contempla uma aprofundada discussão sobre a função da dança na sociedade através de debates, palestras e oficinas, lançamentos de livros e publicações, uma mostra de vídeos e uma de instalações coreográficas.

Ao todo serão cerca de 14 horas diárias de atividades relacionadas com a dança com a presença de mais de 300 artistas, produtores, técnicos e especialistas no assunto.

Apenas cinco espetáculos que se realizam no Teatro do SESC serão cobrados com preços populares – inteira a R$ 10,00 -, os demais serão gratuitos.

A Bienal SESC de Dança 2007 pretende abrir espaço às diversas formas de criação e investigação da dança, seus conteúdos culturais, significativos na valorização da formação e na socialização desse processo.

A Bienal deste ano, cujo tema é “Memória que se inscreve”, recebeu 218 inscrições de espetáculos de grupos de dança de 15 estados brasileiros. Destes, 34 espetáculos foram selecionados, representando São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Brasília, Bahia, Paraná e Piauí.

Para enriquecer ainda mais a programação, o SESC SP convidou Joana Lopes, diretora de Dança-Teatro e coreodramaturga, para desenvolver projeto de residência com bailarinos santistas que resultará na estréia de “Pra Weidt, o Velho”, espetáculo inspirado na coreografia expressionista “A Dança dos Velhos” (Alte Menschen), criada em 1929 pelo alemão Jean Weidt, um precursor do enfoque da dança como ação social. Essa releitura brasileira da peça coreográfica de Weidt foi montada em dois meses e meio de ensaios de formação com jovens bailarinos da cidade de Santos e elenco de bailarinos da terceira idade, num total de 20 pessoas.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Bienal de Dança - Apresentação

5ª EDIÇÃO DA BIENAL SESC DE DANÇA

“Memória que se inscreve”


Para público e artistas, o estranhamento do olhar que se depara com o movimento da dança em locais inusitados da cidade, faz surgir associações e reinterpretações do ambiente, cria novos repertórios e possibilidades de ação do futuro, e, por conseqüência, um referencial para a conduta no presente.

Os mecanismos que fazem dessa produção cultural ser alusiva à propriedade do coletivo, nos direciona a uma idéia de movimento, trocas de informação com a comunidade e expansão das expressões culturais.

É este movimento que direciona a idéia da quinta edição da Bienal SESC de Dança, evento que traz reflexões sobre qualidades diferentes de memória que o corpo inscreve, como a memória de espécie, a memória genética e a memória de linguagem, que além da artística, revela a nossa linguagem, enfatizada através dos gestus social – gestos do cotidiano que pressupõe uma relação histórica, social e econômica reveladora na possibilidade de explorar como são inscritos esses movimentos.

LOCAIS DE REALIZAÇÃO DO EVENTO

Espaços Urbanos


Centro Velho:
Bolsa do Café;
Boulevard da Rua XV de Novembro
Praça Mauá.


Orla da Praia:
Pinacoteca;
Praça das Bandeiras;
Praça do Aquário;
Fonte do Sapo (Calçadão da Praia).


Espaços do SESC Santos

Teatro;
Fosso do teatro;
Foyer do teatro;
Convivência;
Estacionamento;
Internet Livre;
Toca.